Quando pensamos em manejo nutricional, a obesidade é uma das doenças mais comuns que afetam aves domésticas e silvestres. Apesar de sua prevalência, ainda existem muitos mitos e poucas fórmulas industrializadas para cuidar desse fator nutricional que acomete todas as espécies de aves, principalmente aquelas mantidas em ambiente doméstico.
A observação do acúmulo de gordura em diferentes regiões do organismo das aves não é uma tarefa simples, devido à cobertura das penas, o que torna difícil identificar alterações de peso. O aumento de peso ou a falta dele (caquexia) podem passar despercebidos, retardando o início do tratamento do problema. Geralmente, uma ave é considerada obesa quando atinge um peso corporal 15% acima do peso ideal para a espécie. Diversos fatores ambientais podem favorecer o aumento de peso, incluindo a falta de exercício, dietas ricas em energia, recintos inapropriados (pequenos demais ou que não permitem o voo das aves), idade avançada e doenças metabólicas.Algumas espécies têm uma predisposição maior à obesidade, como periquitos australianos (Melopsittacus Undulatus), calopsitas (Nymphicus Hollandicus), canários (Sicalis sp) e papagaios do gênero Amazona.
A obesidade é uma condição que frequentemente desencadeia doenças secundárias, incluindo distocias, infertilidade, lipidose hepática, aumento da pressão sanguínea, aterosclerose, pancreatite necrosante, alterações hormonais, lipomas e problemas musculoesqueléticos. Algumas dessas doenças secundárias podem levar à morte súbita das aves. Fêmeas obesas têm dificuldade em realizar a postura correta e produzir ovos viáveis devido a alterações hormonais, enquanto machos obesos podem apresentar alterações anatômicas na cloaca devido ao acúmulo de gordura, prejudicando a reprodução.
Essas doenças secundárias podem afetar a reprodução de espécies raras, que muitas vezes não conseguem se reproduzir devido ao seu peso corporal inadequado. Embora não haja um escore corporal estabelecido para as espécies de aves, o aumento de peso deve ser monitorado para evitar complicações secundárias que, frequentemente, são mais difíceis de tratar do que a própria obesidade.
A obesidade pode ser facilmente evitada através do controle do gasto energético em relação à ingestão calórica das aves. Nesse sentido, alimentos extrusados oferecem uma vantagem, já que permitem um controle energético correto para cada espécie. No entanto, mesmo quando essas opções não estão disponíveis, é fundamental controlar a quantidade de energia ingerida para prevenir a obesidade.
O tratamento de aves obesas deve seguir algumas diretrizes. Primeiramente, é necessário estabelecer uma meta de perda de peso total, seguida por metas semanais que não devem exceder 0,5 a 2% do peso total a ser perdido. É importante ter em mente que a perda de peso rápida demais pode aumentar o risco de ganho de peso posterior à dieta, além de causar doenças metabólicas significativas.
Em alguns casos, o uso de medicamentos pode auxiliar na perda de peso, mas deve ser feito somente após consulta com um médico veterinário especializado em aves.
Em suma, para prevenir a obesidade em aves, é essencial regular o gasto energético em relação à ingestão calórica. Uma dieta equilibrada, com alimentos adequados para cada espécie, juntamente com espaço físico para exercícios e queima de calorias, é fundamental para evitar morte prematura e promover a saúde e a reprodução das aves. O cuidado atencioso com a nutrição e o manejo é essencial para garantir uma vida longa e saudável para nossos amigos alados.